Kina Maua N’Pango traduz a sua dimensão e visão femininas através da arte. Nasceu em Kimbele, na província do Uíge, rodeada das mais belas paisagens, e passou a infância e a adolescência em Portugal, período após o qual partiu em busca da sua essência. Encontra-se actualmente a residir entre a Alemanha e a Suíça, mas em constante comunicação com o mundo.
A incessante curiosidade e uma vontade superior de experimentação orientaram a sua procura por um espaço que se consagrasse, de facto, como uma fonte de inspiração pura - um espaço longe do rebuliço urbano e do ruído do supérfluo – juntamente com a possibilidade de atenuar as saudades que sentia do país que a viu tornar-se mulher.
O universo encarregou-se de a conduzir ao Alentejo e, mais concretamente, a Vila Viçosa. Neste refúgio de tranquilidade plena, no meio da luz e da pureza das casas vestidas de branco e de pedra calipolense, e no seio de um povo dotado de uma paciente gentileza, Kina Maua encontrou algo mais: encontrou a Casa – a casa onde a poetisa Florbela Espanca viveu durante a sua infância e adolescência.
Este povo que congregava diversos florbelianos, entre os quais o grupo Amigos de Vila Viçosa, esperava ansiosamente por uma oportunidade que lhes permitisse conseguir ressuscitar o nome da poetisa, filha legítima da terra, lutando durante anos sem os recursos necessários, mas com a chama do sonho sempre acesa. E foi esta gente alentejana que potenciou a possibilidade de ajuda na construção deste novo percurso, repleto de esperança e de coragem.
O imóvel, ao abandono durante décadas, marcado pela implacável passagem do tempo, cedo se revelou mais do que um possível atelier – uma casa com alma, ou uma alma com casa, com um rosto particular e uma voz própria, e uma história repleta de palavras e de emoções a aguardar o momento de serem transmitidas ao mundo.
Este singular achado despertou em Kina Maua memórias antigas e as vivências experienciadas enquanto adolescente, repletas de referências a uma determinada ideia de feminismo, mas também do encanto da literatura feita por mulheres. De imediato, a realidade adaptou-se à descoberta e projectou-se um futuro paralelo: já não se tratava, apenas, de encontrar um espaço para a criação artística, mas sim de incluir uma necessidade íntima e urgente de não deixar cair no esquecimento o nome da poetisa, devolvendo o brilho a um marco cultural único: a casa onde viveu Florbela Espanca e onde permanecem as suas memórias – um espaço que ainda tem tanto para descobrir e revelar.
Com esta ideia fundamental de perpetuar Florbela Espanca, reavivando a sua memória e história, quer de vida, quer literária, enaltecendo sempre a sua importância para a Língua Portuguesa e para a própria história do feminismo português, nasce a Casa Florbela Espanca, também ela criada no feminino, a partir das ruínas do passado.
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